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Após mortes de fisiculturistas em SC, especialistas alertam sobre uso de substâncias e falta de acompanhamento profissional

Em um mês, dois atletas morreram em Santa Catarina, com 26 e 19 anos. Especialistas destacam que é importante o acompanhamento por outros profissionais, como ...

Após mortes de fisiculturistas em SC, especialistas alertam sobre uso de substâncias e falta de acompanhamento profissional
Após mortes de fisiculturistas em SC, especialistas alertam sobre uso de substâncias e falta de acompanhamento profissional (Foto: Reprodução)

Em um mês, dois atletas morreram em Santa Catarina, com 26 e 19 anos. Especialistas destacam que é importante o acompanhamento por outros profissionais, como endocrinologista, além do treinador. Antônio Souza e Matheus Pavlak eram fisiculturistas e morreram em Santa Catarina Montagem/Reprodução/Redes sociais Em um mês, dois fisiculturistas morreram em Santa Catarina. Nos dois casos, as mortes foram consideradas naturais e não foram abertas investigações. Especialistas procurados pelo g1 disseram que todo esporte tem riscos e, no caso do fisiculturismo, é importante o acompanhamento profissional de uma equipe, que pode incluir, além do treinador, nutricionista, cardiologista e até psicólogo (leia mais abaixo). ✅Clique e siga o canal do g1 SC no WhatsApp Em 3 de agosto, morreu Antônio Souza, que teve uma parada cardíaca aos 26 anos após participar de uma competição em Navegantes, no Litoral de Santa Catarina. Já Matheus Pavlak foi encontrado morto em 1º de setembro em Blumenau, no Vale do Itajaí. O atleta, de 19 anos, teve uma parada cardiorrespiratória em casa. Diante disso, o g1 buscou especialistas para explicar melhor sobre o esporte e quais os riscos da modalidade, além de como minimizá-los. O que é fisiculturismo? Quais são os riscos? Como minimizar os riscos? O que é o fisiculturismo? O fisiculturismo é um esporte em que o atleta precisa apresentar algumas características físicas, explicou o professor de educação física Nelson Tagliari, da Universidade de Passo Fundo. "O objetivo real é a hipertrofia muscular, o aumento do volume, do tamanho do músculo, para falar numa linguagem mais simples". Esse, no entanto, não é o único objetivo do atleta. "Busca-se muito a simetria, ou seja, a proporcionalidade entre as partes. Também a vascularização, tem que ser bem saliente, como a definição muscular, além da separação muscular. O músculo tem que se apresentar como um mapa anatômico, com a pele muito fina para ficar com uma clareza". A avaliação é subjetiva. "Depende do visual que apresentam, de como eles apresentam as poses, que são as obrigatórias e outras livres que eles podem apresentar também, de acordo com as categorias que existem. Assim são as competições". Fisiculturista de SC que morreu aos 19 anos divulgou evolução dos treinos na internet Quais são os riscos? Existem campeonatos de fisiculturismo chamados de naturais, que não permitem o uso de anabolizantes. Porém, nos demais, o principal risco relacionado ao esporte ocorre se o atleta optar pelo uso dessas substâncias, conforme o professor. "Para você chegar a níveis hipertróficos, ou seja, de volume muito grande de definição como eles apresentam, separação muscular, normalmente eles se utilizam de esteroides androgênicos anabolizantes, que são os anabolizantes que as pessoas conhecem", disse o professor Tagliari. O cardiologista Marcelo Coelho Patrício, que atua no Hospital de Caridade em Florianópolis, afirmou que há uma "epidemia do uso de esteroides que vem acontecendo. A gente está vendo o uso cada vez mais indiscriminado e frequente nas academias". "Esse uso sem um acompanhamento, um uso para fins estéticos e sem uma indicação formal, sem um acompanhamento cardiológico de perto, acaba aumentando o risco", disse o cardiologista. O professor de educação física Diego Augusto Santos Silva, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), também alertou para os perigos dos anabolizantes. "Substâncias como hormônios anabólicos não podem ser usadas indiscriminadamente. Profissionais da medicina, como os endocrinologistas, possuem a expertise necessária para determinar se uma pessoa precisa ou não de hormônios anabólicos em diferentes fases da vida", disse Silva. Ele destacou que é preciso procurar um profissional capacitado. "A prescrição dessas substâncias exige conhecimento específico e habilitação profissional, sendo restrita a médicos. Profissionais como educadores físicos ou nutricionistas, por exemplo, não têm competência legal para prescrever esses hormônios". "O médico deve solicitar uma série de exames para avaliar se há, de fato, a necessidade de administrar esse tipo de substância. O uso de hormônios anabolizantes sem prescrição médica pode trazer uma série de riscos graves à saúde, tanto a curto quanto a longo prazo", declarou Silva. "Esses riscos podem afetar vários sistemas do corpo e, em muitos casos, os efeitos são irreversíveis. O uso dessas substâncias pode resultar em problemas cardiovasculares, danos no fígado, distúrbios hormonais, problemas psicológicos e distúrbios de humor, problemas no sistema reprodutivo, risco de infecções e uma série de outros problemas associados", resumiu. O professor Tagliari enumerou outras situações que podem ocorrer com o uso de anabolizantes. "Você corre riscos de atrofia dos testículos; ginecomastia, que é o aumento do peito, no homem fica que nem um seio de mulher; acromegalia, que são o crescimento das extremidades ósseas; calvície, acne e agressividade". Por fim, o cardiologista Patrício alertou para os perigos ao coração. "A testosterona em dose suprafisiológica, quando é usada para ganho de massa muscular por atletas, causa lesão direta no músculo cardíaco. Ela deixa o coração mais fraco e isso vai acontecer em todos os usuários, não existe dose segura". Como minimizar os riscos? O acompanhamento profissional foi citado por todos os especialistas como essencial para minimizar os riscos da modalidade. "A recomendação é que esse atleta procure estar inserido em uma equipe multidisciplinar, com educador físico, nutricionista, cardiologista, endocrinologista, fisioterapeuta, psicólogo, entre outros, pois cada um dessa equipe tem uma expertise diferente e, todos juntos, minimizarão qualquer risco à saúde em decorrência da elevada carga que é inerente a qualquer esporte competitivo", resumiu Silva. ✅Clique e siga o canal do g1 SC no WhatsApp VÍDEOS: mais assistidos do g1 SC nos últimos 7 dias